25 maio, 2006

REFLEXÃO - Carlos Pais




GEOMETRIA
Reflexão

Oficina de formação “O ensino da geometria nos 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico”
Centro de formação de professores do Douro e Távora
Formadoras: Cibele Fernandes e Mónica Carneiro Escola EB2,3/S Abel Botelho, Tabuaço, Abril a Junho de 2006

Carlos António Lopes Pais e Silva

O mundo apresenta-se com uma complexidade incrível. Desde o mais simples grão de areia, ao mais complexo ser vivo, até à imensidão das galáxias o universo perceptível apresenta uma variedade que deixa o ser humano perplexo. A resposta a esta complexidade é a simplificação, a divisão em partes que permitem analisar os componentes do todo complexo em segmentos mais simples.

A geometria surge como a resposta a uma necessidade de domínio conhecimento e controlo do mundo. Como todo o pensamento abstracto, a geometria, apresenta um processo de interpretação, racionalização e simplificação do mundo. Este processo reduz aos seus elementos mais simples a realidade, cria estruturas de conhecimento que depois podem ser usadas para recriar e explicar os fenómenos dessa realidade. A circunferência da Terra, a linha do horizonte, o padrão fractal do percurso de um rio ou da costa, constituem a base que torna a geometria num processo útil de compreensão, são a transposição da realidade para o conhecimento.

A geometria apresenta uma vontade de compreender, de medir, de integrar. Desde a antiguidade (antigo Egipto) a vontade de conhecer o corpo humano levou à criação de canons uma forma de o medir e geometrizar. A representação do corpo humano respeitava este conjunto de medidas e proporções. Na renascença Leonardo daVinci, tal como outros artistas da época, preocupava-se com este problema cujo emblema se traduz no Homen de Vitruvio.


Trabalho realizado pelos alunos do 5º ano da escola Básica do 2º e 3º Ciclos C/ Ens. Sec. De Aguiar da Beira – Maio, Junho 2006

Desafio/Problema
Recebemos uma tela em branco. Era enorme (120x90 cm) a principio não sabíamos o que fazer para a preencher. O branco amedronta, mas agora tínhamos de a transformar num quadro e a parede vazia da escola onde iria ser pendurado já tinha sido escolhida.

Proposta
A ideia surgiu! Vamos criar um jogo com algumas regras. Vamos usar figuras geométricas combiná-las de modo criativo mas não podemos construir imagens reconhecíveis. A composição terá de ser completamente abstracta.

Trabalho
A primeira coisa que temos de fazer é conhecer figuras geométricas. Nas aulas de Educação Visual e Tecnológica começámos por aprender a dividir a circunferência em partes iguais e inscrever nela o triângulo, o quadrado, o pentágono e o hexágono... Sempre com preocupações de rigor nas medições e traçagens.

Experimentar
Partindo do trabalho já realizado os alunos criaram composições geométricas, em folhas A4, explorando as figuras que já conheciam mas tendo a liberdade de as combinar livremente. Agora a principal preocupação não era o rigor mas sim a exploração da expressividade de cada uma dessas figuras.

Seleccionar, analisar e recriar os elementos visuais
Depois destes desenhos concluídos todos foram observados, analisados e criticados quer pelos alunos quer pelos professores. Destes foram escolhidos os elementos que passaram a constituir a composição final desenhada na tela.

Pintar
Com a tela desenhada, os alunos foram convidados a participar na sua pintura. Em grupos de três ou quatro sucessivamente foram dando o seu contributo quer na escolha das cores quer na pintura das figuras e do fundo.

Apreciar e criticar
A obra está feita. Todos sentiram um prazer especial ao ver a trabalho acabado. Pendurou-se numa parede com bastante visibilidade. Durante alguns momentos os alunos pararam para observar a imagem que transformou os pequenos triângulos e rectângulos da folha de papel numa imagem colorida e vibrante que os convida a reflectir sobre as relações que se podem estabelecer entre os diversos elementos visuais.


Este trabalho foi proposto aos alunos do 5º ano, nos meses de Maio e Junho de 2006, como resposta à vontade que eles próprios manifestaram em explorar a técnica de pintura a acrílico.
Pretendeu-se permitir que o maior número de alunos participasse na elaboração deste quadro e ficasse a conhecer as figuras geométricas básicas. Por outro lado, pretendeu-se promover a reflexão sobre a diferença entre abstracção e figurativismo compreendendo que recorrendo à geometria é possível a criação de imagens que, sendo abstractas, mesmo assim se dotam de um enorme valor plástico e estético.
A geometria apresenta uma forma de compreensão do mundo através da sua simplificação. A aqui apresenta-se o caminho inverso: recorreu-se a processos geométricos para a criação de um objecto puramente estético valorizando o papel da geometria no processo criativo. Este papel está presente em vários momentos na arte moderna e constitui um tema recorrente ao longo dos tempos.


P. Mondriam – Tableau 2


Junho 2006, O Formando,

Carlos Pais